segunda-feira, 29 de outubro de 2007

[ENTREVISTA] A importancia dos sexo nos relacionamentos

A Importância do Sexo nos Relacionamentos
Entrevista concedida à revista Acontece News em dezembro/2006.

AN: Qual a importância do sexo nos relacionamentos afetivos?
PG: Resumidamente o sexo tem a importância que o casal envolvido imprime a ele. Podemos pensar o sexo em propostas de casais que mantém o celibato, casais swing ou até mesmo os góticos que profanam um túmulo e realizam o ato sexual sobre um caixão. Só aqui temos três significados diferentes para o sexo.
As relações afetivas, de maneira geral, tendem a ser legitimadas, seladas com o ato sexual. É bem verdade que vivemos uma sociedade abalada em seus valores morais e éticos o que dificulta mais ainda uma resposta universal para essa questão, mas como mito e paradigma de muitos relacionamentos o sexo sempre ocupou um lugar nobre nos relacionamentos. Mas universalizar uma resposta realmente é impossível.

 
AN: Qual a diferença dos relacionamentos atuais com os de antigamente, da época de nossos avós?
PG: A diferença que testemunhamos cotidianamente baseia-se na quebra de uma sociedade que um dia foi hierarquizada, vertical, para se tornar horizontal, tribalista. Havia ideais comuns nos anos 70, slogans do tipo “faça amor, não faça a guerra”, “paz e amor”, “é proibido proibir”, etc. A nação, o pai, a mãe, autoridades, eram reconhecidos, respeitados em sua hierarquia. Todos sabiam o que era certo e o que era errado fazer. Na sociedade globalizada pais e filhos inverteram papéis, o tecido social encontra-se esgarçado, não é mais respeitado. As drogas dos anos 70 apareciam como protesto. Agora surgem como um nada querer saber. São ingredientes que compõem as diferenças entre as duas gerações em questão.

 
AN: Hoje, os adolescentes e jovens falam muito sobre sexo. Essa atitude é justificada por um conflito de gerações?
PG: O sexo sempre foi o maior tabu da humanidade. Uma das grandes mudanças positivas nesses 30 anos foi tornar possível o diálogo de assuntos tão delicados como sexo, drogas, entre outros. O fim da ditadura também colaborou para que esses temas conversados apenas em rodinhas de adultos pudessem ser veiculados pela mídia, até mesmo como campanhas preventivas como foi o caso da AIDS nos anos 80. Então entendo que os jovens queiram e devam obter informações sobre sexo, mesmo que sejam apenas para se informar. Uma sociedade globalizada urge que adolescentes se informem sobre sexo também. Essa é uma fase da vida que além de longa e cheia de conflitos, o corpo do adolescente sofre muitas perdas e aquisições em um período relativamente breve. Nesse sentido não vejo como fruto de um conflito de gerações falarem sobre esses assuntos. Parece-me refletir mais uma mudança de paradigmas de nossos dias atuais, num contexto democrático quando jovens se formam pessoas, diferentemente de gerações anteriores que viveram a ditadura e todas as decorrências dela.
 
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AN: Atualmente, o sexo não tem a única finalidade da procriação, o que é muito bom. Mas em contrapartida, a promiscuidade vem crescendo. Como lidar com isso?
PG: É verdade que novas formas de relacionamento favorecem envolvimentos dessa natureza, mas muitas pessoas já descobriram que relacionamentos sem compromisso e cumplicidade são um engodo, e relacionamentos surgidos nos últimos 30 anos sob a égide da filosofia do ‘eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também’ se encontram em declínio. De certa forma, a mesma cultura que criou o equívoco promove seu reparo. Na verdade nossa sociedade é como um carro em movimento que precisa trocar suas rodas sem pará-lo.

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AN: Quais são as características dos pacientes que recorrem ao senhor?
PG: São pessoas que procuram alguma solução para uma queixa que os trazem até o tratamento. As queixas são muito variáveis e, baseados nelas, nada podemos dizer que delineie um perfil dos pacientes. Trabalho com a psicanálise de enfoque lacaniano, e quando falamos em psicanálise, as estruturas de personalidade mais recorrentes, embora haja casos que fujam a essa regra, são neurose, psicose e perversão. Como é de conhecimento teórico que os casos cujo pano de fundo predominante é a neurose, é claro que eles aparecem em maior número. Mas dizer que são pacientes neuróticos é como dizer nada, uma vez que de uma forma ou de outra, todos somos neuróticos. O que muda é o grau, e isso sim é de pertinência a nós.

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AN: Qual a instrução que o senhor mais fornece a estes pacientes?
PG: Não trabalhamos com aconselhamento ou coisa desse tipo. O que fazemos é mostrar ao paciente o que ele está fazendo com sua vida, e o que pretende mudar. Ele é livre para, inclusive, continuar como está. Mas se procura-nos, é porque está incomodado e quer uma mudança, embora resista quando atuamos sobre o mal que lhe acomete. Num primeiro momento fazemos o papel de espelho para a tomada de contato com o que lhe é desconhecido. Implicar-se em sua queixa é condição sine qua non para um resultado eficaz do tratamento, mas o que temos observado é que nós humanos procuramos empurrar para fora de nós uma responsabilidade que é só nossa, que é a responsabilidade frente ao nosso desejo.
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AN: Deixe um recado para nossos leitores
PG: Freud dizia que o visual se tornou importante a partir do instante em que o homem se tornou bípede. Até então o aparelho olfativo predominava, passando para o visual. Do homem das cavernas para os dias atuais, a visão só ganhou força. Na sociedade pós-industrial, desenvolvida tecnológica e cientificamente, artifícios como silicones, lipoaspirações, anabolizantes, plásticas, e tantos outros aparatos estéticos estão muitas vezes se prestando ao culto ao corpo. A pergunta que surge é: o fisiculturismo tão apregoado por tantos não nos atrai pelo visual? Esse visual presta-se ao amor ou ao sexo? Diz Exupèry: “o essencial é invisível aos olhos”. Se isso é verdade, buscamos o sexual através do não essencial e perdemos o melhor dele que é o amor, este sim invisível.##


P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

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