quarta-feira, 29 de agosto de 2012

0108 [Perg/Resp] Por causa do ciúme dela não saio mais


Se olho para as pessoas
ela muda o humor
Namoro há quatro anos, estou noivo e ela tem 20 anos. Quando saíamos comer fora era só eu olhar em volta se tinha alguém conhecido e ela já ficava com ciúme (gosto de ficar de frente para a entrada). Mas se sentasse de costas e virasse de vez em quando pra trás, nooossa! Não saio mais, evito locais públicos, se for comer vou ao drive thru. Se eu olhar para uma mulher sem cobiçá-la ela já altera o humor. Nooossa, terrível! Vai dar certo?
Célio, 30.

O ciúme é um componente das relações que surge quando há uma terceira pessoa, mesmo imaginariamente. O simples fato de ela imaginar isso a sinaliza algum perigo em curso. Em relações de cumplicidade e lealdade entre ambos, se confirmada a suspeita, o sentimento encontra fundamento para existir, mas não parece ser o caso.
Veja que no prazo de quatro anos houve uma retração de sua espontaneidade, buscando minimizar o mal estar que situações públicas causaram. No entanto o ciúme é sempre intrínseco a quem o vive. E acredite, a pessoa que o sente é a que mais sofre, não poupando as demais.
Mas sua questão foca-se no sucesso ou fracasso dessa relação. Por quatro anos já provou do bom e do ruim dela. Pois apesar do ciúme outros sentimentos atuam, como o amor, o respeito, etc. Não existem príncipes ou princesas, e as pessoas vêm com o kit completo. Até que ponto está disposto a pagar seu preço?

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

domingo, 26 de agosto de 2012

0107 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV 3


SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (III)
Por Paulo Roberto Ceccarelli*

Entendo por efeitos perversos a situação onde os meios de comunicação utilizam seu poder de persuasão, baseado na mais alta tecnologia, para criar comportamentos e difundir valores sociais de felicidade que transformam objetos, os mais triviais, em necessidades. Entretanto, o que está sendo, de fato, oferecido, e que rapidamente se transforma em “sonho de consumo”, são padrões identificatórios globalizantes apresentados como insígnias (imaginárias) de sucesso. Esses padrões, dificilmente alcançáveis pela grande maioria da população, transformam as identificações em valor de consumo e propiciam a criação de duas “realidades sociais”: a dos que tem acesso aos objetos, e a dos que não tem. Se você não tem dê um jeito de ter, senão estará excluído do imaginário social que dita, em estreita ressonância com as leis de mercado, como se deve ser, agir, o que comprar... “A mídia” observa Eugênio Bucci “é o maior veículo de exclusão social”. Deduz-se facilmente a tensão que esta organização social acarreta, pois as relações humanas “são profundamente influenciadas pela quantidade de satisfação (pulsional) que a riqueza existente torna possível”. Quando isto não acontece, a civilização não cumpre o papel de tornar a vida comunitária possível e “efetuar certa distribuição da riqueza (e) mantê-la”.
As identificações determinam, também, o tipo de relação que o sujeito estabelece com o mundo. A observação de Le Bon, citada por Freud, sobre como funcionam os grupos, é ilustrativa:
A TV busca padronizar comportamentos
“Um grupo é extremamente crédulo e aberto à influência; não possui faculdade crítica e o improvável não existe para ele. Pensa por imagens, que se chamam umas às outras por associação (tal como surgem nos indivíduos em estados de imaginação livre), e cuja concordância com a realidade jamais é conferida por qualquer órgão razoável.”
Embora o uso da palavra imagens no texto citado seja diferente do uso atual da palavra, é exatamente este o efeito que a imagem exibida na TV produz: uma captura imaginaria, no sentido do Estádio de Espelho, que prescinde de qualquer índice de realidade. Isto só é possível porque a “as relações amorosas (laços emocionais) constituem também a essência da mente grupal”. Ou seja, são nas identificações que as imagens se sustentam quando produzem laços emocionais. Além disso, como na hipnose e na formação de grupos, encontramos também a idealização e o fascínio pelo líder cujo lugar, aqui, é ocupado pela imagem. No entanto, é a relação narcísica que, neste caso, participa na estruturação dos laços que unem o sujeito. Ora, sabemos que o rompimento de laços baseados no narcisismo, que denuncia o funcionamento imaginário desta forma de interação humana, é uma dos maiores geradores de violência social.

* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

sábado, 25 de agosto de 2012

0106 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV 2


SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (II)
 Paulo Roberto Ceccarelli*

O difícil e longo processo de “educação pulsional” que permite ao sujeito suportar as exigências impostas pela civilização inicia-se no nascimento. O potencial bio-psíquico do bebê será desenvolvido a partir de suas relações com seus cuidadores e, num segundo momento, pelo grupo mais amplo no qual está inserido: esse grupo é o primeiro representante sócio-cultural ao qual ela terá acesso e do qual extrairá as informações sobre o sistema simbólico da sociedade que pertence e à qual deverá se submeter e inserir seus comportamentos e condutas.
A criança precisa de modelos éticos de seu pais
A participação de seus cuidadores na construção do sistema de valores ético-morais da cultura em que está inserida é um postulado de base. Entretanto, quando seus responsáveis não lhe oferece referências identificatórias, é provável que ela busque modelos fora do ambiente próximo para sua constituição psíquica. Na falta de referências, a criança pode tomar aquilo que a mídia, em particular a TV, exibe como coordenadas de base.
Em 2000 publiquei um texto em que parto dessas considerações para discutir em que medida aquilo que a mídia veicula pode produzir efeitos perversos para a constituição psíquica.

* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

0106 [Perg/Res] Estou há 6 anos sem namorar, beijar, transar


Desde 2006 sem apetite sexual
Estou há aproxima-damente quatro anos sem sexo, sem namorar, beijar, ou qualquer contato físico. Não sinto vontade alguma de ter alguém ou outra forma de excitação. Sempre gostei de sexo, mas desde 2006 estou sem apetite sexual ou desejo de relacionamento amoroso. Estou preocupada, amigos me questionam sobre isso e não sei responder. Ser assexuado é uma doença? Existe tratamento?
Meire.

Seria importante primeiramente esclarecer que o termo ‘assexuada’ conceitua um tipo de reprodução de algumas espécies animais ou vegetais. O termo não define uma patologia ou sintomatologia.
Em sua queixa reporta-se ao termo ‘assexuado’ para definir a vida sem atividade sexual. É um equívoco, além de uma tentativa de apreensão do que lhe ocorre pelo desconhecimento das causas, buscando uma nomeação para isso.
A primeira coisa que se pode pensar é o que ocorreu em 2006 em sua vida? Saberia localizar algum fato que tenha desencadeado uma mudança em sua libido? Não me parece razoável pensar que em determinado dia, acordou e decidiu zerar sua atividade sexual. Muito provavelmente você foi lenta e gradativamente retraindo sua libido, até o ponto de fechamento em que se encontra. Isso lembra o que ocorre na depressão. Não é possível lhe afirmar o que seja, mas como até mesmo em sua pergunta o marco é o ano de 2006, seria sensato pensar o que houve na época.
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0105 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV 1


SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (I)
 por Paulo Roberto Ceccarelli*

Toda civilização tem de se erigir sobre a coerção e renúncia à pulsão.
Freud, 1929. 

Freud sustenta que a civilização é a responsável direta pela infelicidade do indivíduo, na medida em que exige renúncias pulsionais severas. Ainda que alguns possam suportar os limites impostos à sexualidade sem adoecer (sublimando, por exemplo), outros incapazes de fazê-lo recorreriam a doenças ou transgressões como alternativas pulsionais de vazão à sexualidade. 
A sexualidade é formada também pela mídia
Em “O mal estar na civilização” (1930) Freud revê essa posição com a introdução da pulsão de morte. Sendo essa pulsão uma tendência inata, é um ingrediente irredutível do sofrimento psíquico. Assim, atribuir exclusivamente à civilização a responsabilidade pela doença nervosa seria muito simplista.
O alto preço dessa renúncia só é suportável por meio de satisfações substitutivas. Mais que isto: para que a transformação do gozo em desejo ocorra é necessário que o Outro garanta a continuidade de satisfações substitutivas. Caso contrário uma “permanente parcela de descontentamento persistirá dentro da cultura, o que pode conduzir a perigosas revoltas”. As satisfações substitutivas são parciais, deixando um Mal estar difícil de aplacar.

* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

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