quarta-feira, 31 de agosto de 2011

0096 [Artigo] Sexo no Relacionamento (VI)


O SEXO NOS RELACIONAMENTOS (VI)

Capital e libido caminham juntos
Em uma sociedade que incentiva o consumo, modelos de moda nos são apresentados. Criam-se estereótipos, especialmente físicos, que servem como canais para se atingir seu objetivo: o lucro. Nesse movimento o sexo acaba muitas vezes subordinado ao capital. O fator econômico está tão intimamente ligado à sexualidade humana que se compõem em uma das principais queixas na clínica quanto a questões sexuais e amorosas.
A sexualidade é de tal forma complexa que todas as áreas de nossa vida podem atingi-la duramente, causando grande dor e sofrimento nas pessoas.
Freud dizia que o visual ganhou maior importância quando o homem se tornou bípede. Até então o olfato era predominante. Do homem das cavernas para os dias atuais a visão só ganhou força.
Na sociedade pós-industrial, tecnológica e cientificamente desenvolvida, artifícios estéticos como silicone, lipoaspiração, anabolizante, plásticas, e demais aparatos estão muitas vezes a serviço do culto ao corpo. A pergunta que surge é: o fisiculturismo tão apregoado por tantos não nos atrai pelo visual? Esse visual se presta ao amor ou ao sexo? Diz Exupèry: “O essencial é invisível aos olhos”. Se isso é verdade, buscamos o sexual através do não essencial e perdemos o melhor dele que é o amor, este sim invisível.
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P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

0096 [Perg/Resp] Há 13 anos ele foge do casamento


Nem posso tocar no assunto que sai briga
Há 13 anos comecei um namoro e sempre idealizei uma vida de casada, mas ele nunca tocou no assunto mesmo pressionado. Só eu uso aliança de noivado comprada por mim. Depois de muita pressão começou a construir a casa. Mas ele foge do casamento como o diabo da cruz, só quer juntar, mas já falei que quero pelo menos de papel passado. Nem posso tocar no assunto que a gente briga e fico mal. Ele já tem 29 anos, poxa! E com medo de casar? Se isso continuar ainda vou acabar terminando.
Leila, 28.

Pelo relato o namoro começou quando você tinha 15 anos. É difícil acreditar que ele não sinta nada por você, e jogar fora tudo o que construíram parece um pouco precipitado. Tempo para uma decisão sem dúvidas já tiveram. Se nada ou quase nada se concretizou quanto ao seu sonho cabe alguma atitude que mude isso, mas acima de tudo assumir as responsabilidades decorrentes. Pressionar pode tornar complicar mais a situação e gerar sentimentos irreais em ambos. Se o diálogo não é possível, um basta é preciso ser dado.
Mas a questão da aliança me chamou muito a atenção. Ficou evidenciado que o desejo de se casar sempre foi exclusivamente seu. Comprou a aliança e se colocou como noiva sozinha. Não existe casamento de uma pessoa apenas! Você ignorou o quanto ele está distante de seu desejo. Acreditou que ele fosse mudar, mas não mudou. Sem uma atitude sua a inércia vai prevalecer.

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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

0095 [Artigo] Sexo no relacionamento (V)


O SEXO NOS RELACIONAMENTOS (V)
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A sexualidade é um dos quatro
grandes dilemas humanos
A esfera sexual é cheia de mistérios. Para Freud a sexualidade está entre as quatro maiores dificuldades humanas, o que faz dela uma das principais queixas no consultórios A questão que se apresenta a nós profissionais quanto a essas queixas é redimensioná-las na sua complexidade para que as mesmas adquiram a proporção dada pelo paciente.
Diversos fatores invadem com força a esfera da sexualidade humana: questões de foro pessoal, profissional, financeiro, familiar, conjugal, são apenas alguns. Há uma falsa crença de que os profissionais ‘psi’ sejam como conselheiros. Essa é a ideologia médica que se tem na prescrição a solução de seu problema, sempre externo a si. Não é assim na psicanálise. Entendemos que há uma responsabilidade do paciente em sua queixa.
Ao apresentar a queixa ele invariavelmente se coloca externo a ela. Esse é um problema inicial para entrada em análise: se posicionar como parte da queixa, sem se excluir dela. Resistimos em abandonar nosso sintoma, o mesmo que nos leva ao tratamento. Paradoxal tanto quanto o ser humano.
Agora imagine como é complicado dizer ao paciente que ele é subjetivamente responsável por sua impotência ou frigidez! Quando se mexe no foco do problema em geral se ouve: “doutor, não estou reclamando disso, quero resolver aquilo”, sem imaginar que ali reside sua origem.
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0095 [Perg/Resp] Sinto revolta e mágoa de um ex


Amei de verdade e fui enganado
Sempre fui sincero e jamais humilhei ou joguei sujo com o sentimento das pessoas. Envolvi-me num relacionamento e pensei que, pelo menos enquanto durasse seria respeitoso e recíproco. Apaixonei-me, amei, me entreguei. Ainda sofro por me sentir usado e abusado. Jamais pensei que amar trouxesse tanta dor.
Hoje não sei se sinto raiva, revolta, mágoa ou desprezo por quem me causou tanto mal. Minha vontade é de olhar no olho e desabafar, perguntar por que fez isso comigo, mas ele não tem essa coragem. Ainda gosto dele, acredita?
Luiz, RO.

Não me ficou claro o que gerou o sentimento de ser ‘usado e abusado’. Talvez um amor dissimulado por parte de seu namorado? Que amor rima com dor todos sabem desde que começam a amar, mas o sentimento vivido é outro.
O que sente hoje você mesmo nomeia: Raiva, revolta, etc. co-existem dentro de você de uma forma tão confusa que se de um lado deseja uma conversa de acerto de contas, de outro há algum sentimento alimentando uma esperança de que as coisas possam se acertar de uma forma diferente da de antes.
Quando uma relação entra em crise, razão e emoção invariavelmente se chocam. Sabemos o que fazer, mas não encontramos forças, é mais forte do que nós. Nossa emoção nos mobiliza às vezes totalmente. Sua última questão evidencia isso, quando apesar de tudo o que ele te fez se declara afetivamente vinculado a ele.
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

0094 [Artigo] Sexo nos relacionamentos (IV)


O SEXO NOS RELACIONAMENTOS (IV)

Houve um tempo em que o sexo era exclusivamente para a procriação e preservação da espécie. Com tantas mudanças sociais isso se modificou, mas surge um forte apelo ao sexo nas relações, sua conseqüente banalização tendo um aumento na promiscuidade. Apesar de as novas formas de relacionamento favorecerem esse fenômeno, muitos já descobriram que a ausência de compromisso e cumplicidade podem ter desfechos indesejados. Relacionamentos baseados na ideologia do ‘eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também’ já não dão tanto ibope como antes. A cultura que o inventou agora o desinventa. Destaco a frase:  'A sociedade é como um carro em movimento que não pode parar para trocar as rodas'.
'Ficar' já não dá mais tanto ibope
Não há um perfil possível a ser delineado no que diz respeito aos pacientes que se queixam de problemas de natureza sexual. O universo sexual engloba tantas facetas da vida humana que qualquer tentativa nesse sentido seria um reducionismo, para não dizer desastre.
Quando se tem como ferramenta a Psicanálise isso se torna ainda mais difícil. O enfoque dado pelas teorias psicanalíticas não se pauta em diagnósticos como é praxe da medicina. Sabemos de estruturas de personalidades e sabemos que elas se apresentam em nós em graus diferentes, numa direção ou noutra. A complexidade da Psicanálise é um reflexo da complexidade de nossa constituição como seres humanos.

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0094 [Perg/Resp] A família exige muito dele


É verdade que nos casamos com a família do noivo também? Não sei até que ponto nos abrir às famílias. Sei que eu devo apoiá-lo a visitar sempre, mas a família pede mais e começa a pesar nas costas. Como dosar isso sem mágoas? Isso parece egoísmo e não quero brigar com ele, mas vejo que sua família exige demais, não vive sem ele e ele se preocupa! Se fosse a solução até traria morar em casa, mas isso não resolve!
Déia

A família exige muito dele
Com certeza que o equilíbrio deve ser encontrado junto com ele, expondo o que vem sentindo de tudo, mas também sabendo ouvi-lo em seus argumentos. É bom lembrar que você, ao entrar em sua vida, forçosamente provocou mudanças na dinâmica familiar que já funcionava sem você em certo ‘equilíbrio’ (aspas no equilíbrio que é algo questionável).
Fiquei com a impressão que já vivem como casados, e está buscando delimitar seu espaço físico e conjugal no que tange à família dele que parece atravessar ao menos essas duas esferas.
Quanto ao egoísmo, acho prudente frisar que em uma vida a dois, concessões de ambas as partes devem ser feitas, assim como ocorrem mudanças. Pareceu-me estar insegura que sua exigência como companheira afete sua vida familiar. Isso é inevitável! Ele será levado a um novo posicionamento com a família, para que você seja incorporada a ela, e você deve abrir espaços para que a família dele transite, mas preservando o espaço do casal.
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domingo, 21 de agosto de 2011

0093 [Artigo] O Sexo nos Relacionamentos (III)


O SEXO NOS RELACIONAMENTOS (III)

Sem a ditadura a mídia fala do assunto
O sexo sempre foi um dos maiores tabus da humanidade. Uma das mudanças positivas nesses 30 anos foi tornar possível o diálogo entre pais e filhos de assuntos delicados como sexo, drogas, entre outros. O fim da ditadura colaborou para que esses temas, conversados apenas em rodinhas fechadas pudessem ser veiculados pela mídia, incluindo as campanhas preventivas como foi nos anos 80 o caso da AIDS e DSTs em geral. Entendo que o adolescente queira e, principalmente, deva obter informações sobre sexo, que é um assunto que toca essa fase com agudeza.
Uma sociedade globalizada urge que eles se informem sobre o assunto. É uma fase da vida que além de longa e cheia de conflitos, o corpo do adolescente sofre muitas perdas e aquisições em um período relativamente breve.
Certa vez fui perguntado se o falar muito sobre sexo justificaria um conflito entre gerações nos jovens. Não vejo assim. Parece-me refletir mais uma mudança de paradigmas sociais no contexto democrático em que o jovem se forma pessoa em oposição às gerações anteriores que viveram sob a ditadura em que vivíamos a ética do dever, onde a moral dizia-nos o certo e o errado, o que devíamos e o que não devíamos fazer. A mudança de paradigmas nos faz responder pelo nosso desejo, mas isso não se faz sem responsabilidade, o que não é pouca coisa.
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

0093 [Perg/Resp] Diz que me ama mas não esquece o ex


O ex- a chantageou, mas ela diz que me ama
Namorei um ano e meio, ficamos noivos, mas não sentia correspondência e rompi. Idealizei muito. Sofri tanto que tomei antidepressivo, mas mantivemos contato mesmo ela namorando. Sete meses depois nos encontramos e deixou o namorado, mas ele a chantageou e voltou. Depois de dois meses nos falamos novamente. Chorou, disse que me ama, mas não consegue largar dele. Passou o fim de semana comigo, mas há três dias não faz contato. Estou sabendo que está brigando com ele pra ele terminar. Fico ansioso, não sei se fui ingênuo em tentar novamente, se a amo demais. Não consigo me desprender e razão e emoção estão em conflito.
Aldo, 20.
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Não consegue se desprender. A questão é: deseja isso? Não me parece. Apesar de estar ponderando com uma parcela de razão, tem consciência de emoção mobilizada. Veja que coisa: se está ansioso por ela não fazer contato, por outro lado sabe que ela está tentando acertar sua vida com o namorado para talvez entrar para valer nessa segunda tentativa de vocês. Nada mais acertado que dar a ela mais espaço nesse momento para que decida sem afobação. Não é fácil administrar dois relacionamentos juntos, e seu momento é de espera. Mesmo porque não se sabe o que ela decidirá.
É bom lembrar que sua decisão pelo rompimento talvez seja a principal razão de estar enfrentando tudo isso que relata. Tentar compreender os fatos não lhe ajudará com suas emoções. Viver essa experiência sem a garantia que tanto busca pela razão não é fácil, mas nos acrescenta muito.
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terça-feira, 16 de agosto de 2011

0092 [Artigo] Sexo nos Relacionamentos (II)


O SEXO NOS RELACIONAMENTOS (II)
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Passamos da sociedade do dever à sociedade globalizada
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Muitas diferenças entre os relacionamentos atuais com os da época de nossos pais ou avós são fortemente marcadas pelas mudanças de paradigmas de uma sociedade que já foi hierarquizada, vertical, para se tornar horizontal, tribalista. Trinta ou quarenta anos atrás tínhamos ideais comuns: “faça amor, não faça a guerra”, “paz e amor”, “é proibido proibir”, etc., eram bandeiras que nos uniam. A nação, o pai, a mãe, autoridades, eram reconhecidos em sua hierarquia. Era a sociedade do dever, em que todos sabiam como era o agir certo e o errado.
A globalização retirou do pai o lugar de organizador, norteador da vida dos filhos que agora invertem papéis em casa. O tecido social se esgarçou, e o pacto social não é mais respeitado verticalmente. Isso tem reflexos diretos no comportamento sexual.
Ao homem cabia a conquista enquanto a mulher se posicionava como objeto de desejo. Isso mudou, não são mais imposições culturais. O homem que percebe a paquera não se sente na obrigação de ‘mostrar serviço’ e a mulher também começou a ser a conquistadora. O que surge agora não é mais ‘um deve fazer isso e o outro aquilo’, mas sim respondermos por nossa singularidade, nosso desejo. Se ainda no plano da conquista os paradigmas caíram por terra, o momento de intimidade de um casal sofre os mesmos efeitos dessa mudança. E isso é uma enorme diferença entre as duas gerações.
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0092 [Perg/Resp] Casado sentindo atração por homens


É comum um homem sentir atração por outro, mesmo casado?

Henrique, 30.


Concluímos nossa personalidade na adolescência com a aquisição da identidade sexual. A escolha do objeto sexual quase sempre é inconsciente. O meio exerce um papel muito grande nessa escolha. A conduta de nossos pais, a presença/ausência deles é determinante.
Ser casado não exclui nem afirma a escolha homossexual. A escolha pode se dar a contragosto, por faltar alternativa, para não sentirmos-nos excluídos, etc. Se sua escolha foi heterossexual essa atração deve ter uma origem desvinculada do sexual e esses pensamentos tendem a desaparecer. Mas outros fenômenos psíquicos podem estar em jogo e uma análise os desvendariam.
Sou casado e sinto atração por homens
Nossos desejos não são subordinados à moral (certo/errado). Eles buscam a realização, mas tem de se haver com a cultura. Se os conceitos e preconceitos que simbolizamos foram significativos a você, pode estar vivendo crises com raízes na não satisfação de seu desejo sexual, e a moral está determinando uma escolha contrária ao seu desejo.
Despertou-me curiosidade você estranhar as fantasias sendo casado. Desejo não satisfeito é postergado, permanece latente e mais tensão se acumula. O alívio pode se dar pela fantasia, mas a descarga sexual nunca é concomitante à sua fantasia, fomentando ainda mais o desejo de satisfazê-la. Na sociedade atual o que antes era imoral pode ser percebido como normal.
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terça-feira, 2 de agosto de 2011

0091 [Artigo] O Sexo no Relacionamento (I)


O SEXO NO RELACIONAMENTO (I)

- Me diz que me ama? / - Eu te amo!
É grande a importância do sexo nos relacionamentos, mas seu significado muda de um casal para outro, indo de propostas de celibato até o casamento a um enorme espectro de variações. Swing (troca de parceiros entre casais), góticos (o ato sexual ocorre sobre um caixão no túmulo), relações abertas envolvendo até mais que duas pessoas são apenas alguns exemplos de uma multiplicidade de significados. O universo humano é complexo.
Houve um tempo em que as relações amorosas eram seladas com o ato sexual. A mudança de paradigmas da sociedade globalizada mudou valores morais e éticos, e o que era um valor passou a ser um desvalor, dificultando ainda mais uma resposta que o represente de maneira universal.
O sexo já foi a marca de uma relação de cumplicidade e amor entre duas pessoas. Não é mais assim na sociedade atual. No entanto, seu lugar continua especial para quem o vincula ao amor. Como nossa sociedade impõe muita velocidade a tudo, pessoas e ideais são cada vez mais descartáveis. O significado do sexo sofre seus efeitos diretos acompanhando esse pensamento onde tudo deve acontecer em tempo real, sem grandes projetos ou compromissos, não refletindo necessariamente uma relação de cumplicidade, de forma que o sexo existe onde não há um casal propriamente dito. São significados que refletem as mudanças de paradigmas sociais.
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