sábado, 15 de setembro de 2012

0113 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV (IX)



SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (IX)
A leitura do adulto sobre a criança 

 Por Paulo Roberto Ceccarelli*
O adulto imprime sua leitura à criança
 A exploração do erotismo banaliza a sexualidade tratando-a como se fosse igual para todos, ditando regras de consumo que padronizam o comportamento e performances sexuais. Para quem não consegue responder a essas imposições perversas existem drogas que corrigem o ‘problema’. A indústria farmacêutica da “performance sexual” não pára de crescer.
A constituição da sexualidade humana começa bem antes do nascimento e se relaciona com o lugar que a criança ocupa no imaginário dos que a acolhem no mundo. Ela marca o sujeito por intensos movimentos pulsionais, definindo sua expressão, que se dá de forma singular em cada um.
A resposta que a criança dá às suas excitações sexuais não corresponde à leitura do adulto. Suas reações, ao surpreendê-la nas brincadeiras infantis, denunciam isso, e é nesse sentido que a criança é inocente. Na descoberta e construção imaginário-simbólica do próprio corpo não existe (ainda) nenhuma razão para se evitar sua exploração libidinal, o que ocorrerá pela leitura do adulto às brincadeiras – culpa, prazer, proibição, pecado... – revelando como este viveu o despertar de sua própria sexualidade. 
Fonte: http://www.ceccarelli.psc.br/

* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br


0113 [Perg/Resp] Sou homossexual, preciso mais de sexo que ele



Sou homossexual, há dois anos namoro e somos completamente apaixonados um pelo outro, porém, temos uma diferença muito grande quanto ao desejo sexual: eu preciso mais de sexo do que ele, o que gera muitos conflitos. Isso é comum? Como amenizar isso para evitar conflitos?
David.
Quero mais sexo que ele
A singularidade de cada um é o que nos diferencia dos outros. Todos relacionamentos têm divergências e desencontros quanto a vários aspectos, e o desejo sexual não foge à regra. A questão ganha importância, pois é no sexual dos relacionamentos amorosos que se dá a entrega e intimidade máxima. Eu estranharia uma relação sem conflitos, algo estaria errado.
Relacionar-se (em qualquer nível) com um colega momentâneo ou o amor de sua vida, é antes de tudo se confrontar com a surpresa, o inesperado que o encontro provoca. Digo isso, pois a singularidade marca o único, o exclusivo do David e mais ninguém. Isso nos coloca frente a surpresas quando nos relacionamos.
Se isso gera angústia em você é preciso que avalie o grau de frustração que suporta, o quanto você e ele são capazes de ceder um pouco, numa negociação para equacionar os desencontros inevitáveis. Há outros desencontros mais perniciosos que o abordado para a sobrevivência de um relacionamento. A capacidade de ambos em lidar com a novidade é fundamental, assim como auto-confiança, auto-estima, amor, etc. Há um espectro enorme de variáveis a considerar.

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

sábado, 8 de setembro de 2012

0112 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV (VIII)



SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (VIII)
A ditadura da mídia

 Por Paulo Roberto Ceccarelli*
A TV dita como deve ser a sexualidade
A TV aproveita-se da liberdade da revolução sexual para ditar padrões que só são possíveis quando o erotismo se transforma em pornografia (erotismo esvaziado de afeto), e a intimidade é evitada. A sexualidade veiculada pela mídia é tomada como correta. Nessa perspectiva, a pornografia é uma defesa que evita o contato com conteúdos psíquicos proibidos geradores de culpa e prazer. São vários os programas em que há a presença de “especialistas”: psicólogos, psicanalistas, sexólogos, etc., novelas cujo público-alvo é o adolescente. Muitos exibem modelos estereotipados que ditam como agir, exigem performances sexuais sem falhas, comportamentos normativos e normatizantes. Jovens carentes de referências internas se valerão dos modelos da mídia, ignorando-se a dimensão fantasmática presente nas relações sexuais, sem considerar o sexual um mosaico escalonado em diferentes registros, com formas de prazer diversos, múltiplos e por vezes inconciliáveis. Isso pode fazer com que o sujeito se sinta desrespeitado, discriminado, perdido. Por outro lado oferece “soluções” a conflitos internos assegurando ao sujeito a ilusão de pertencimento a um grupo.


* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

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0112 [Perg/Resp] Minha noiva se irrita facilmente



Estou noivo (ela tem 20 e eu 30 anos) e ela que está marcando salão de festas, etc. Trabalho em pé o dia inteiro, chego cansado e ela marca os horários mais cedo que já pedi (após 19h). Ela não está pensando em mim, mas só no horário do compromisso (e tinham outros horários). Outro dia marcou outra degustação. Cometi um erro falando para se arrumar rapidinho, pois tinha que resolver algo e não daria na sexta-feira (para ter tempo para as duas coisas), mas falei com calma, e mesmo assim ficou feroz: “tudo bem vai fazer suas coisas, mas não precisa passar aqui em casa porque não quero te ver!”. Cria-se um clima chato que demora a normalizar.
Célio, 30.
Ela só pensa nela,
não se preocupa comigo
Uma diferença e 10 anos nessa fase é substancial. Você não pode esperar dela a maturidade que alcançou aos 30 anos. Ela está saindo da adolescência, vislumbra uma vida provavelmente florida de casada. É de se esperar que os sonhos e fantasias dela sejam maiores que em você.
Não estou em defesa de ninguém. Vejo esse fato como um flash de outros desencontros que ainda viverão e que tendem a diminuir à medida que caminham juntos na vida, acertando e errando, mas sempre se dispondo a superar essas barreiras pelo diálogo. Você se queixa de sua incompreensão sem perceber o quanto não a compreende, mesmo com sua maturidade, o que faz lembrar Legião Urbana: “Você me diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais”.

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br

0111 [Artigo] Sexualidade e Consumo na TV (VII)



SEXUALIDADE E CONSUMO NA TV (VII)
O Recalque de Freud

Por Paulo Roberto Ceccarelli*

O recalque estrutura e diferencia o humano
O recalque é constitutivo do ser humano e condição para a existência de qualquer civilização ou cultura. É ele que nos impõem uma renúncia pulsional e nos obriga a abandonar os primeiros objetos sexuais. Freud foi genial ao perceber que esse processo ao mesmo tempo estrutura e diferencia o humano.
Uma maior liberdade da sexualidade genital não significa que o contato com as pulsões edípicas torne-se mais simples. Em alguns casos o diálogo entre pais e filhos pode facilmente transformar-se em cenas de sedução na medida em que não estão imunes ao retorno de moções pulsionais recalcadas e incestuosas que geram culpas e inibições. A aproximar-se de tais conteúdos o universo fantasmático do sujeito pode sofrer um embotamento da circulação pulsional que repercute nas relações afetivas. O fato de os sintomas persistirem com outra roupagem testifica que menor repressão não garante satisfação pulsional. Por isso raramente encontramos os sintomas sexuais tais como citados por Freud da Viena do séc. XIX (conseqüentes da repressão sexual). Visto por esse ângulo, o “ficar” (forma de relação atual) pode representar um desdobramento da revolução sexual.


* Paulo Roberto Ceccarelli é Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII, entre outros títulos de peso.

P a r a   e n v i a r   p e r g u n t a s : gobett@tribunatp.com.br
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